MOÇAMBIQUE DOMINA INVESTIGAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE NOS PALOP

Moçambique produz 70% de toda a investigação em ciências da saúde nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), onde esta actividade aumentou, coincidindo a pesquisa com as patologias que mais afectam estes estados, revela hoje um estudo inédito.

O MAPIS – Mapeamento da Investigação e Financiamento das Ciências da Saúde em Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe foi encomendado pela Fundação Gulbenkian e analisa a evolução da produção científica internacional em ciências da saúde nestes países, entre 2008 e 2020, as redes de colaboração e as fontes de financiamento.

Para tal, foram identificadas as publicações científicas na área das ciências da saúde em revistas internacionais amplamente reconhecidas, publicadas entre 2008 e 2020, com a participação de investigadores afiliados a instituições destes países.

De acordo com as conclusões do documento, registou-se “um aumento significativo na investigação em ciências da saúde nestes países, em especial durante a última década”, sendo o nível de publicação “especialmente significativo” em Moçambique.

Esta evolução é igualmente positiva nos outros países, embora São Tomé e Príncipe registe uma actividade científica “muito limitada”.

Angola apresentou “uma actividade científica inferior ao esperado”, mas com “um crescimento constante na produção e institucionalização da investigação ao longo dos últimos anos”.

Além de Moçambique, que contabiliza 70% de toda a investigação dos PALOP, também a Guiné-Bissau apresenta “um impacto relativamente elevado de citação”.

Moçambique é igualmente referido como tendo sido “cada vez mais bem-sucedido na obtenção de financiamento externo e na liderança de propostas internacionais de investigação”.

Sobre os temas abordados pelos investigadores nos diferentes países, o estudo apurou que “os padrões de especialização reflectem os padrões de incidência local de várias doenças”.

Em todos os PALOP, as áreas de investigação mais prolíficas são a malária, VIH, mortalidade materna, tuberculose e sarampo, doenças que nestes países têm uma incidência mais elevada em relação à média mundial.

“Em Moçambique, a relevância de doenças como o VIH ou a malária reflecte-se nos tópicos mais abordados na investigação local, enquanto que, em Angola ou na Guiné-Bissau, surgem outros tópicos, tais como os relacionados com a parasitose (em Angola) ou com o sarampo (na Guiné-Bissau)”, lê-se no documento.

Em Moçambique e na Guiné-Bissau, indica-se no MAPIS, “a investigação realizada nestas áreas conta com mais citações do que a média mundial, o que resulta, previsivelmente, do pequeno grupo de investigadores que colaboram frequentemente com co-autores internacionais de renome que participam em grandes projectos de investigação”.

“Estes resultados, juntamente com o facto de grande parte da investigação ser realizada em associação com hospitais, também parecem revelar que a investigação em ciências da saúde é desenvolvida em articulação relevante com o sector da saúde, tendo em conta as necessidades concretas de saúde das populações locais”, prosseguem os autores do estudo.

Relativamente à colaboração com que os investigadores em ciências da saúde nos PALOP contam, no estudo refere-se que, “embora Portugal seja um parceiro importante, não é o parceiro mais importante em Moçambique ou na Guiné-Bissau, onde os Estados Unidos e a Dinamarca assumem, respectivamente, essa posição”.

Moçambique colabora mais frequentemente com os Estados Unidos e parceiros espanhóis, enquanto Angola, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe com pares portugueses e a Guiné-Bissau com dinamarqueses.

Existem poucas colaborações entre os PALOP, o que revela que as ligações linguísticas são “menos fortes, num processo dinâmico de internacionalização”.

A este propósito, os autores recomendam o apoio a programas de intercâmbio e mentoria entre os PALOP.

O MAPIS analisou ainda o financiamento em publicações científicas com autores dos PALOP e identificou “a intervenção de um número significativo de agências de financiamento, com um aumento muito considerável”, nos últimos anos, do apoio por parte da Fundação Gates, juntamente com o Instituto Nacional de Saúde norte-americano e a Comissão Europeia.

O “Mapeamento da Investigação em Ciências da Saúde nos PALOP (MAPIS)”, o novo estudo da Fundação Gulbenkian, é apresentado amanhã, dia 27 de Setembro, com um debate sobre panorama e o futuro da investigação em ciências da saúde desenvolvida nos PALOP, e do seu financiamento.

A Fundação Calouste Gulbenkian é uma instituição portuguesa de direito privado e utilidade pública, cujos fins estatutários são a Arte, a Beneficência, a Ciência e a Educação. Criada por disposição testamentária de Calouste Sarkis Gulbenkian, os seus estatutos foram aprovados pelo Estado Português a 18 de Julho de 1956.

Com mais de 50 anos de existência, a Fundação Calouste Gulbenkian é uma das mais importantes fundações europeias, desenvolvendo uma vasta actividade em Portugal e no estrangeiro através de projectos próprios, ou em parceria com outras entidades, e através da atribuição de subsídios e bolsas. A Fundação tem delegações em Paris e em Londres, cidades onde Calouste Gulbenkian viveu.

Na sua Sede, em Lisboa, dispõe de um Museu, de um Centro de Arte Moderna e de uma Biblioteca de Arte, mas também de uma Orquestra e de um Coro, que atuam ao longo do ano no âmbito de uma temporada de música internacional. Realiza exposições individuais e colectivas, promove conferências internacionais, colóquios e cursos, e organiza um extenso programa de actividades educativas para crianças e adultos.

Distribui subsídios e concede bolsas de estudo para formação em Portugal e no estrangeiro e apoia programas e projectos de natureza científica, educacional e artística. Desenvolve uma intensa actividade editorial, sobretudo através do seu plano de edições de manuais universitários. Promove e estimula projectos de ajuda ao desenvolvimento com os países africanos de língua portuguesa e Timor-Leste. Promove a cultura portuguesa no estrangeiro e desenvolveu igualmente um programa de preservação dos testemunhos da presença portuguesa no mundo.

Paralelamente às suas actividades em Portugal e no estrangeiro, de promoção da cultura portuguesa, a Fundação desenvolve um programa de actividades em prol da Diáspora Arménia para a disseminação da sua língua e cultura.

Folha 8 com Lusa

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